Letícia completou dois anos. Eu completei dois anos de um novo ciclo em minha vida. Não me recordo mais de como eram os dias em que eu pensava apenas em minhas necessidades e meus desejos. Desde que ela nasceu, meus pensamentos e ações estão diretamente ligados ao bem estar dela.
Não vejo isso como algo ruim, digo a parte de pensar menos em mim. Nos últimos meses passei a dedicar parte do meu tempo às minhas necessidades individuais, porém, o predomínio das necessidades de minha pequena ainda é maior. Vejo isso de forma natural e benéfica em vários aspectos. Como disse é um novo ciclo. Tenho uma amiga que adora essa palavra e agora eu passei a gostar também.
Sou uma pessoa cheia de medos. Confesso que às vezes me acho um tanto depressiva, mesmo que no dia a dia eu não me permita ter o tempo necessário para pensar em meus medos. Prefiro o pensamento positivo, a esperança do algo melhor, a rotina incansável de trabalho e das atividades domésticas ao exercício do sentar e refletir sobre as minhas aflições e dos motivos delas existirem. No momento, meu medo é não
Quando me comparo à Letícia (mesmo sendo algo absurdo de se fazer, pois ela é uma criança e eu uma adulta) vejo o desenvolvimento da espécie (Risos). Ela é feliz como toda criança deve ser. Não me recordo de quando tinha dois anos, mas que eu saiba sempre fui meio circunspecta. Letícia não. Ela é agradável e engraçada. Faz bagunça e se diverte com coisas grandes e pequenas. Eu era comportada (segundo diz minha mãe).
Eu sou feliz, não me entenda mal, só sou um ser cheio de anseios e medos, talvez como muitos outros seres humanos, talvez um pouco menos ou um pouco mais. Meu desafio é não transmitir meus temores à minha filha. Até agora tenho feito um bom trabalho, pois só vejo nela sorrisos e grandes risadas. Ela é um pouco brava, geniosa e controladora (herdou isso de mim), mas sabe conquistar a todos com seu jeito carinhoso e cativante. Quando faz arte e precisamos colocar autoridade em nossas vozes, ela nos olha com carinha de santa e diz “amo muito, muito você”, o que nos quebra e nos fraqueza na tarefa árdua que é educar.
Não sei muito como deve se comportar uma criança de dois anos. Lembro vagamente da minha irmã caçula, que nasceu quando eu tinha oito anos. Acho que por causa do meu desconhecimento me surpreendo a cada dia com seu desenvolvimento. Ela fala frases completas, faz conexões entre as pessoas, se questionada se ama papai e mamãe, ela não responde – amo papai e mamãe – ela diz “amo os dois”. Ela reconhece os lugares onde as pessoas mais próximas moram, aponta o nome de vários conhecidos em fotos e fala ao telefone como gente grande.
Bom, posso não ser perfeita, posso não ser uma mãe perfeita, mas sim, tenho feito um bom trabalho nesses dois anos. A maternidade é um ciclo eterno composto por vários ciclos. Eu, ainda estou no paraíso.